Thursday, August 03, 2006









by XTC:

O grande sucesso de Ultraman e Ultra Seven no Japão desencadeou uma série de imitações em seu país, quase nenhuma capaz de arranhar a popularidade dos originais. Uma dessas produções, porém, feita no início da década de 1970, conseguiu não só rivalizar com os Ultras clássicos como também obteve algum sucesso nos Estados Unidos, França e Brasil, onde foi reprisado até meados da década de 1990 pelo SBT.

Produzido com parcos recursos pelo estúdio P-Productions, a saga de Spectreman iniciou no Japão uma verdadeira mania por monstros, revigorando o gênero. Um herói humano, com fraquezas e constante rebeldia, inimigos carismáticos e histórias criativas fizeram a fama de um dos mais famosos "clones" do Ultraman. Os "defeitos especiais" da produção também eram marcantes: maquetes capengas com fios de sustentação ainda mais visíveis do que de costume, raios desenhados em cenas congeladas, monstros em stop motion desajeitado e explosões pífias, fora os trajes de acabamento quase amador. Tudo muito tosco e divertido, num enredo que misturava humor (voluntário e às vezes nem tanto), drama e algumas vagas mensagens ecológicas.

No centro de tudo isso, a grande atração era sem dúvida o maligno Dr. Gori. Egocêntrico, histérico, megalomaníaco e cheio de tiques nervosos, o estiloso macaco loiro e seu fiel assistente Karas foram criados graças ao sucesso mundial de O planeta dos macacos.

Além de Gori, os monstros eram outra grande marca do programa. Ao longo da série, apareceu um rato voador gigante bípede e com duas cabeças, um monstro com cabeça de semáforo e ganchos no lugar das mãos, uma barata gigante, uma baleia cachalote voadora e até uma cópia maligna do herói, entre outras ameaças memoráveis.

"DOMINANTES, ÀS ORDENS!"

Com esse bordão, o pacato Kenji (Jooji Gamou, no original) transformava-se no poderoso andróide de batalha Spectreman e partia para enfrentar os monstros que ameaçavam o Japão. Capaz de se tornar um gigante e voar, utilizava uma infinidade de golpes e raios, sendo o principal deles o Spectro-Flash.

O enredo mostrava o herói vivendo oculto na Terra a mando dos Dominantes de Nebula 71 para alertar a humanidade sobre os riscos da destruição do meio ambiente. Disfarçado de humano, ele se juntou ao Grupo Anti-poluição, uma equipe de pesquisadores e ativistas ambientais.

A chegada de Spectreman coincidiu com o primeiro ataque do Dr. Gori, um fugitivo espacial que almejava conquistar a humanidade junto com seu assistente Karas, um homem-gorila tão forte quanto cretino. Gori criou monstros que se alimentavam de lixo e fez sucessivos ataques contra o Japão, um país que sofre com a poluição desenfreada de suas indústrias. O discurso ambiental, no entanto, não passava de um detalhe, pois o que interessava aqui era ver monstros levando uma boa surra do herói.

Ao longo dos episódios, o Grupo Anti-poluição deixou as pesquisas de lado e começou a usar armas avançadas para ajudar Spectreman, tornando-se o Grupo Anti-monstros. Ficou uma imitação meio capenga de equipes estilo Esquadrão Ultra (de Ultra Seven) mas, sem dúvida, a mudança deixou os episódios mais movimentados.

A série possui muitos capítulos antológicos (quase todos em duas partes), com destaque no aspecto humano das histórias, o que era bem característico nos heróis da P-Productions. Em um dos mais interessantes, o boa-praça e mercenário espacial Meteoro desafiou Spectreman para um duelo estilo caubói, a fim de saber quem era capaz de disparar mais rápido seu raio mortal. Porém, a amizade de Meteoro por um garoto fez o honrado lutador tomar uma decisão inesperada no confronto. Em outra aventura, um patético lixeiro foi transformado por Gori num monstro comedor de lixo que assustava sua própria família. Em pânico, a grotesca criatura tentou se matar, numa cena tão constrangedora que ficou bacana de tão trash. E, bizarrice suprema, em um aventura, Karas colocou óculos escuros, chapéu e poncho de mexicano e entrou numa discoteca. A seqüência é um verdadeiro delírio de pancadaria psicodélica.

Alguns momentos, porém, tinham ênfase no drama, como o arrepiante (se você tiver menos de dez anos, claro) episódio duplo Operação genocídio, com mortes em profusão e o heróico sacrifício de um garoto sensitivo no final. Em outro arco duplo de histórias, Gori saiu de cena para o confronto de Spectreman com o vampiro espacial Vordalak, em aventura digna do clássico Ultra Seven.

O final da série mostrava o herói partindo de volta para seu lar, depois de perder o poder de se reverter para a forma humana, vencer Karas e presenciar o suicídio do Dr. Gori. Os camaradas de equipe, vendo-o partir, revelaram que já sabiam da sua identidade secreta. E foi assim, de modo bem melancólico, que o programa terminou, deixando de lado os alívios cômicos e assumindo aquele senso de melodrama que tanto caracterizava os aventureiros japoneses clássicos.

Competindo diretamente com a super-produção (para os padrões da época) O regresso de Ultraman e com o inovador homem-gafanhoto Kamen Rider, a produtora apostava no clima das histórias para manter a audiência. E conseguiu, pois Spectreman chegou a 63 episódios, uma excelente e poucas vezes alcançada marca para um seriado do gênero.

ATERRISSANDO NO BRASIL

No Brasil, pouco mais de cinqüenta episódios foram exibidos, sendo que a maior parte dos inéditos fazia parte da segunda metade do programa. Exibido inicialmente à noite na TV Record no início da década de 1980, a série logo migrou para o SBT, onde ganhou enorme popularidade.

A dublagem, feita nos estúdios da TVS (que era também o nome original do SBT), era recheada de vozes marcantes, como Carlos Seidl (Dr. Gori) e Potiguara Lopes (Karas), os populares Seu Madruga e Prof. Girafales do Chaves. Porém, a edição de áudio era péssima, parecendo que as vozes saíam de dentro de uma cabine.

No Brasil, a série ainda ganhou uma versão em quadrinhos na Editora Bloch desenhada por Eduardo Vetillo, que teve um grande destaque como desenhista dos Trapalhões. Com o nome do herói mudado de Kenji para Kenzo, e com o traje em tons de azul e com design diferente do original, o gibi parecia até uma produção pirata.

Com todas suas virtudes e deliciosos defeitos, Spectreman é uma série cult como poucas. E, preparando o terreno para cada um de seus divertidos episódios, uma sóbria locução alertava os telespectadores, mais ou menos assim:

"Planeta: Terra. Cidade: Tóquio. Como todas as metrópoles do planeta, Tóquio se acha hoje em desvantagem em sua luta contra o maior inimigo do homem: a poluição. E apesar dos esforços de todo o mundo, pode chegar o dia em que a terra, o ar e as águas venham a se tornar letais para toda e qualquer forma de vida. Quem poderá intervir? ssssssssssssssSpectreman man man man!!!"

CURIOSIDADES

No início, o personagem-título da série era o vilão Dr. Gori. Somente na terceira fase, o título definitivo foi adotado, conforme aparece na ficha técnica.
O estúdio P-Productions foi o mesmo que realizou as duas séries em live-action Lion Man (exibidas na extinta TV Manchete) e o clássico Vingador do Espaço (TV Record), baseado em mangá de Osamu Tezuka.
A versão em mangá foi desenhada pelo próprio criador Souji Ushio, onde ele assinou com o pseudônimo de Daiji Kazumine. No total, rendeu nove volumes encadernados.
A roupa de Spectreman era usada pelo dublê Koji Uenishi, que já havia trabalhado em Ultra Seven. Seu físico atarracado e os grandes capacetes que tinha que usar sempre deixavam seus personagens meio cabeçudos. :-)
Foi nos Estados Unidos que o nome foi alterado de Spectroman para Spectreman e o seriado ganhou sua estilosa música-tema. A melodia original foi mantida na trilha instrumental, especialmente em cenas de batalha.
O ator Tetsuo Narikawa é mestre de karatê, fato que não foi explorado na série.
Ficha técnica

Títulos originais: Uchuu Enjin Gori (Homem-Macaco Espacial Gori/ episódios de 1 a 20), Uchuu Enjin Gori x Spectroman (episódios de 21 a 39) e Spectroman (episódios de 40 a 63)

Estréia no Japão: 02/01/1971 (TV Fuji)

Número de episódios: 63

Criação: Souji Ushio
Roteiro: Susumu Takaku, Masaki Tsuji e outros
Trilha sonora: Kunio Miyauchi e Naohiko Terashima
Direção: Koichi Ishiguro, Keinosuke Tsuchiya e outros
Produção: P-Productions
Emissoras no Brasil: TV Record e SBT
Versão brasileira e dublagem: TVS

Elenco:
Tetsuo Narikawa (Kenji), Tohru Ohira (Chefe Kurata), Takamitsu Watanabe (Kato), Kazuo Arai (Ota), Koji Ozaki (Wada), Machiko Konishi (Minnie), Yoko Shin (Tieko) e Taeko Sakurai (Kimie).

2 comments:

Anonymous said...

Very nice site! » »

Anonymous said...

Obrigado por Blog intiresny